Amor mortífero

No começo tudo eram flores, literalmente, todos os dias ele chegava com um buquê para mim, um mais bonito que o outro, um mais cheiroso que o outro. Era amor pra cá, amor pra lá; saídas, convites, mensagens de bom dia, declarações antes de dormir, sorrisos e brincadeiras. Cinco meses depois chegou o tão indesejado, porém um tanto bonitinho sentimento, o ciúme, mas até então estava no limite, achava que era cuidado, medo de me perder, ou melhor, era demonstração de amor, né?! Até porque, ciúme faz parte de todo relacionamento, ou não?
A cada semana que se passava, esse sentimento foi crescendo e para mim estava se tornando insegurança, escravidão, possessividade, mas dava pra aguentar. Tínhamos uma briguinha aqui, outra lá e mais algumas ali, mas ele era tão lindo, me entendia, me amava e só queria cuidar de mim, me queria ao lado dele.
Completado um ano de namoro, tudo isso se tornou insuportável. Junto com as discussões, vieram os tapas, socos, objetos voando de lá pra cá e daqui pra lá, já não o reconhecia mais. Quis terminar, mas ele dizia que ia mudar e eu, uma tola apaixonada, acreditei. As agressões se tornaram frequentes, até que tomei uma atitude, fui à delegacia e dei queixa dele, nas semanas seguintes, a mesma coisa. Fui obrigada a sair do emprego, não podia me comunicar com ninguém, sair? Só com ele ao lado, vizinhos? deviam achar que me mudei sem dar um tchau sequer, telefone em casa era só para atender suas ligações de cinco em cinco minutos e ai de mim se não atendesse, ele chegava em casa em menos de dez minutos me batendo. Muitas vezes achei que o trabalho dele era na rua de trás, de tão rápido que vinha. Me alimentava mal, só limpava casa, fazia coisas dele e para ele, me tornei uma escrava sexual. Parei de viver. Fiquei fraca, dormia demais e com isso, não ouvia as ligações recebidas, o que me fez apanhar mais até que meus tão corajosos vizinhos perceberam que havia algo errado e ligaram para a polícia, que me tirou dali e o prendeu, fui parar no hospital, mas de nada adiantou. Estou indo embora, para sempre. Estou partindo me questionando: o que eu fiz de errado?


Carolina Ribeiro

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